A Educação Pública Estadual e a
Caixa de Pandora
Tadeu Alencar Arrais
Doutor pela UFF/RJ
Professor do Instituto de Estudos
Socioambientais – IESA-UFG
Os sintomas são inequívocos e os sinais estão em
todas as latitudes. Na TV, um programa dominical de audiência nacional destacou
o descaso com a merenda em escolas públicas goianas. Na internet circula texto
de um professor da rede pública estadual denunciando o fechamento de
laboratórios de informática, ciências, línguas etc. Nos consultórios médicos
multiplicam-se os pedidos de afastamento de professores por motivos de saúde
que vão de doenças no sistema nervoso aos já conhecidos problemas gástricos. No
curto intervalo das aulas, diante de seus pares, não é incomum encontrar
professores relatando situações intimidação. Ao conferir o seu soldo, no início
do mês, o professor acometido por tais intempéries, percebe que recebeu apenas
80% do seu parco salário. Considerando todos os sinais, poderíamos supor que
tal professor abriu a caixa de Pandora. Mas nem todos pensam assim.
Ao que parece, coube ao Secretário da Educação do
Estado de Goiás, enterrar, de uma vez por todos, os males que acometem a rede
publica estadual de educação. O principal deles, que podemos deduzir da leitura
de vários artigos opinião de sua autoria, tem relação direta com a capacidade
de gestão e da pouca eficiência da administração pública, visão que mescla
doses otimismo ingênuo e pragmatismo político. O otimismo resulta de uma visão
de que os problemas da educação podem ser resolvidos nas escalas intermediárias
da gestão, não por acaso essa palavra seja tão recorrente nas publicações do
Secretário. O pragmatismo o faz acreditar que a solução será rápida, bastando
apenas adotar princípios do planejamento estratégico, cujos exemplos mais
criativos gravitam em torno de uma agenda de avaliação regular dos alunos,
remuneração docente medida pela eficiência e qualificação dos diretores. Na verdade,
receita de otimismo e pragmatismo funciona como álibi para ocultar uma
realidade bastante conhecida pelas comunidades escolares. Não é preciso visitar
em comitiva as centenas de escolas goianas para comprovar a situação de
penúria. De igual forma, de pouco adianta viajar pelo mundo na cata de
experiências que só enriquecem a retórica política. A solução é simples e passa
por duas ações demasiadamente conhecidas: 1) política salarial que permita ao
professor, para além do consumo diário de proteínas, usufruir de bens culturais
e atividades de lazer – difícil pensar que isso ocorra quando observamos, por
exemplo, as reticências diante da adoção do piso nacional em Goiás. 2) melhoria
na infraestrutura escolar, o que implica em salas de aulas com ventilação,
quadros adequados, cadeiras e mesas para o professor, equipamentos de projeção,
computadores, bibliotecas, laboratórios etc. Essa receita não é nova e
certamente professores e alunos de escolas finlandesas dispõe de condições
objetivos para realização do processo pedagógico infinitivamente superiores que
as escolas estaduais goianas – talvez por isso sejam o que são, afinal existem
predicados preliminares para que possamos exigir eficiência.
O autor do livro Educação: o desafio de mudar
apresenta uma reflexão sobre a educação como projeto atrelado ao
desenvolvimento do estado de Goiás. Mas a pergunta não é o que o futuro nos
reserva, mas sim os motivos pelos quais o presente ainda nos aprisiona. Enfim,
a caixa de Pandora foi aberta e não faltam candidatos movidos por boas
intenções para fechá-la. A maioria deles, entretanto, fecha a caixa
apressadamente, deixando lá no fundo, na escuridão, aquele pobre professor,
contanto o seu soldo e esperando os dias melhores, mesmo que venham de um
déspota esclarecido – e candidatos não faltam.
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